Discutíamos. Momentos como este que que articulam grande força e intensidade, nossos acalorados debates, me marcam sempre a memória – já tão defasada, um tanto elefântica: enorme pro que realmente interessa. Entre punhos pressionados com força de onde poderia vir um golpe certeiro, gritos que transpassavam cozinha, a sala e o seu quarto, bem no meio dos olhos, como costumavas me olhar, proferiu: Sua…Sua petulante.
Pe-tu-lan-te. Que poderia ser nominada doente, louca, demente ou grossa, mas não. Uma petulante. Pétala ambulante? Uma personificação errante pra esses meus erros banais e corriqueiros: um pedaço de flor, caído ao chão sem se mover, derrubado pela própria impetuosidade. Foi como me senti ao quase beijar teu tapete, deitada no chão que já conhecia meu corpo inteiro; apenas junto ao seu, sob o brilho das estrelas quando a janela aberta, e o zelo das cortinas, no rigoroso inverno.
Perplexa, sim, permaneci. Sentada à cama, sem ação, nem revide. Vendo sua raiva de mim partir com você e sua carteira no bolso, a chave do carro em mãos. Os passos largos, apressados. Porta batida, estrondo. Sabe se lá para onde ia, imagino que, qualquer lugar longe dessa minha arrogância de viver que não consegue nunca calar o pensamento, ou o que sinto. Foi nesse meu atrevimento que o obtive. E aparentemente, na mesma ousadia de viver sem nunca me subjulgar, também estava nítido que perderia o que havia conquistado: você.
Recolhida na fúria de ser este mar singular onde se afogam os despreparados, e navegam os apreciadores de grandes venturas, abracei as pernas e chorei como criança perdida no mundo, desencontrada de pai e mãe. O desconsolo de não me resguardar, e com audácia, agir sem nem ao menos tentar um acordo com o pensamento. Eu é quem erro e prenuncio todas atitudes alheias, julgo quaisquer fatos que à mim não dizem nem respeito, tão pouco razão. Pronta sempre para o ataque, essa foi a última de nossas tantas discórdias. Da qual ainda tento fragmentar e esmiuçar, para que talvez compreenda onde que o erro encontrou falha, e nos fez cair para dentro. Nessa desgovernação que me acomete, e que nem entendo; apenas sigo. Foi a petulância em si, ou uma gota dessa água que ameaçava cair há tempos, e nunca víamos ruir?
Ao refazer o caminho da dança que foi o fogo de nossa luta, algum vestígio que fosse do que poderia salvar a minha culpa de ser vilã, para se tornar sua companheira do seu crime (quem sabe, noiva). Arco com o prejuízo de estar certa, para obter a glória de você de novo num jantar dos nossos, acordar ao seu lado e pensar: a vida é justa quando fazemos valer a pena cada fração de segundo. Até largo fora a cara de ser insolente, e amolecer a diretriz dessa minha urgência, para que depois do perdão, revigorados voltemos um ao outro: em paz, e com muito amor.
Chego a pensar que se lutamos, é para ter o sabor ácido e simultaneamente doce de fazer as pazes mais tarde. Petulante ou não, insuportável ou de TPM: você, a paciência enorme que acaba transbordando porque eu canso sim, mas recompenso. E bem. Tanto que a campainha toca, vejo flores no que deveria ser a sua face – agora, também arrependida – e abraço você com a ternura de quem segura o maior prêmio nos braços: o nosso amor como vencedor. Se te desculpo? Acho que te amo.
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Quer saber quem escreveu esse texto?
Camila Paier ou @camilapaier é dona do blog Calmila (Calma, Camila) e mora no Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Como quase todos os escritos que mais amo nesse mundo paralelo, conheci o a Camila e o seu blog por acaso e desde então não consegui mais sair de lá. Seus textos são super bem escritos, e o mais legal: saem do clichê que estamos acostumados a ler em textos no estilo! A guria é talentosa e merece a visita de todas vocês.
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